sexta-feira, 16 de novembro de 2012

TEXTO PARA REFLEXÃO


Navegando contra o vento do tempo


Paulo Alves de Souza

(Artista plástico, poeta e agitador cultural)
Fonte: Revista Preá. Nº14, Setembro / 
Outubro,2005



Hoje uma lágrima teimou em passar por entre as rugas do meu rosto, quase senil; com ela, o tempo que eu julgara sepultado, ressurgiu.
Tempos da airada juventude de aventuras e delírios retomaram o vôo da águia que não pode fugir do seu próprio destino, buscando o céu inatingível; perdida no caminho da volta, que se tornara possível nas asas do tempo.
Envolvo-me em reminiscências, sobre tudo, a magia dos anos 60.
Não tínhamos, à época, limites de velocidade, nem cinto de segurança nos carros; tínhamos cintos de castidade nas nossas cabeças, anulando a sexualidade latente. A mídia era menos mentirosa e subliminar em seus efeitos.
Pilotávamos  motos sem capacetes, esses mesmos que hoje cobrem cabeças vazias e ocultam criminosos.
A carona era solidária e nela não havia riscos de “morte” ou “de vida”. Os preservativos eram feios e aterrorizantes e toda a forma de sexo era pecado.
Os jovens não “ficavam e não “rolavam”. Envolviam-se, comprometiam-se e casavam-se para serem felizes ou infelizes para sempre.
As águas que corriam nas torneiras, rios e lagos eram transparente  e pura como o sol do meio-dia.
Meninos e meninas brincavam sem a interferência dos adulto; tinham  a liberdade que a inocência  permitia e a desinformação não tolhia.
Os telefones eram pretos e estridentes, cheios de ruídos; um luxo para poucos.
Os televisores eram enormes, cheios de chuviscos, preto e branco. Navegávamos nas ondas do rádio; que vinham e iam e às vezes não voltavam.
Hoje, temos canais interativos, videogame e outros recursos que tornaram a vida simplificada, mas absurdamente tediosa
Em seu lugar tínhamos solidariedade, amigos para sempre e todo o mundo conhecia uns  aos outros e se respeitavam mutuamente.
As frustrações ocasionais resolviam-se sem a interferência  de psicólogos,numerólogos, sociólogos e salvadores da pátria. O poder político não tinham a língua  nem o rabo presos.
Convivia-se pacificamente com as doenças preexistentes, e confiava-se nos médicos que ainda não eram tão venais.
Não havia aprovação automáticas nas escolas, criando-se falsas  expectativas de resultado e dados mentirosos, para tabular a farsa dos poderosos e das elites dirigentes.
A escola pública era uma referência e os professores, mestres na construção dos jovens que deles se orgulhavam e os imitavam.
A admissão ao ginasial era o portal; o primeiro obstáculo a ser transposto.
Depois, o Atheneu, a Escola Industrial hoje em ruínas; todas elas, escolas públicas e com ensino de excelência. A maioria dos professores não eram burocratas a serviço do sistema.
O serviço militar e a justiça eram iguais para todos. Nessas instituições, filhos de ricos e de pobres serviam à pátria em igualdade de condições.
O terrorismo motivado pela “Guerra Fria”, envolvia os Estados Unidos(EUA) e a União Soviética(URSS) em tempo integral de insultos e retaliações, nos levando a conviver com o terror e  a iminente destruição da terra em uma guerra nuclear.
A ditadura do proletariado estendia-se pelo mundo em desenvolvimento, promovendo guerras, financiando a destruição das instituições e do estado de direito, impondo novos valores e a igualdade  entre desiguais.
Em cuba, Fidel Castro e Che Guevara, comandavam a invasão e a tomada do poder, transformando esse país e a sua utopia socialista em um satélite da União Soviética. Executaram ou condenaram à morte centenas de dissidentes políticos. Transformaram a romântica ilha na fechada ditadura de Fidel Castro.
Os Estados Unidos, em defesa dos seus princípios de liberdade, mandaram seus jovens cidadãos para o inferno do Vietnã onde milhares deles morreram e mataram sem razão e sem causa que justificasse a luta.
À época, o Brasil era uma potência emergente; saltávamos de 48ª economia do mundo para  a 8ª posição. Construíram-se estradas que cortaram e interligaram  o país em todas as direções. Hoje, constrói-se pedágio, tapa-buracos e somos a 15ª economia do mundo e a primeira em demagogia. Venceu a mídia e a mentira.
Restabelecemos a democracia, a liberdade, consolidada por José Sarney, Fernando  Collor e Fernando Henrique Cardoso e para dar continuidade às mentiras e ao atraso: Lula da Silva. O Brasil vai bem OBRIGADO.
Na falta de opção, nós, os velhos e aposentados sobreviventes de sustos após sustos, recordamos o passado. Buscando flores, sonhos e borboletas no nosso próprio jardim; embriagando-nos em nossa própria volúpia.
Celebramos hoje, nós e o tempo; a poesia, nesses dias sem fausto. Sem poesia  de pertencimento.
Somos a chama que nos consome, criando e recriando a alquimia do tempo, que conduz para o desamparo do mundo.
O tempo embriaga o velho como o vinho de sua ternura, mergulhando-o no paraíso de aventura compartilhada, que entrelaça-se  na amizade e na sua fragilidade.
O amor ainda latente advém desses tempos sem glória da salvação em si mesmo.
As estrelas midialíticas incendeiam o que restou de poético e verdadeiro transmudando a verdade; lavando com ácido o chão das nossas almas; alguns esfinges  de silêncio.
Este sepulcral silêncio que conduz à vida, imprimindo ritmo,lapidando uma sociedade mais justa, fraterna e menos mentirosa.
As mãos de Deus se estendem em nossa direção; nelas a ira, a lira e a utopia humanas não se cabem de esperanças.
A DESPEITO DE TUDO, NÃO FOMOS  VENCIDOS – SOBREVIVEMOS.

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