Navegando
contra o vento do tempo
Paulo Alves de Souza
(Artista plástico, poeta e agitador cultural)
Fonte: Revista Preá. Nº14,
Setembro /
Outubro,2005
Outubro,2005
Hoje uma lágrima teimou em
passar por entre as rugas do meu rosto, quase senil; com ela, o tempo que eu julgara
sepultado, ressurgiu.
Tempos da airada juventude
de aventuras e delírios retomaram o vôo da águia que não pode fugir do seu
próprio destino, buscando o céu inatingível; perdida no caminho da volta, que
se tornara possível nas asas do tempo.
Envolvo-me em
reminiscências, sobre tudo, a magia dos anos 60.
Não tínhamos, à época,
limites de velocidade, nem cinto de segurança nos carros; tínhamos cintos de
castidade nas nossas cabeças, anulando a sexualidade latente. A mídia era menos
mentirosa e subliminar em seus efeitos.
Pilotávamos motos sem capacetes, esses mesmos que hoje
cobrem cabeças vazias e ocultam criminosos.
A carona era solidária e
nela não havia riscos de “morte” ou “de vida”. Os preservativos eram feios e
aterrorizantes e toda a forma de sexo era pecado.
Os jovens não “ficavam e não
“rolavam”. Envolviam-se, comprometiam-se e casavam-se para serem felizes ou
infelizes para sempre.
As águas que corriam nas torneiras,
rios e lagos eram transparente e pura
como o sol do meio-dia.
Meninos e meninas brincavam
sem a interferência dos adulto; tinham a
liberdade que a inocência permitia e a
desinformação não tolhia.
Os telefones eram pretos e
estridentes, cheios de ruídos; um luxo para poucos.
Os televisores eram enormes,
cheios de chuviscos, preto e branco. Navegávamos nas ondas do rádio; que vinham
e iam e às vezes não voltavam.
Hoje, temos canais
interativos, videogame e outros recursos que tornaram a vida simplificada, mas
absurdamente tediosa
Em seu lugar tínhamos
solidariedade, amigos para sempre e todo o mundo conhecia uns aos outros e se respeitavam mutuamente.
As frustrações ocasionais
resolviam-se sem a interferência de
psicólogos,numerólogos, sociólogos e salvadores da pátria. O poder político não
tinham a língua nem o rabo presos.
Convivia-se pacificamente
com as doenças preexistentes, e confiava-se nos médicos que ainda não eram tão
venais.
Não havia aprovação
automáticas nas escolas, criando-se falsas expectativas de resultado e dados mentirosos,
para tabular a farsa dos poderosos e das elites dirigentes.
A escola pública era uma
referência e os professores, mestres na construção dos jovens que deles se
orgulhavam e os imitavam.
A admissão ao ginasial era o
portal; o primeiro obstáculo a ser transposto.
Depois, o Atheneu, a Escola
Industrial hoje em ruínas; todas elas, escolas públicas e com ensino de
excelência. A maioria dos professores não eram burocratas a serviço do sistema.
O serviço militar e a
justiça eram iguais para todos. Nessas instituições, filhos de ricos e de
pobres serviam à pátria em igualdade de condições.
O terrorismo motivado pela “Guerra
Fria”, envolvia os Estados Unidos(EUA) e a União Soviética(URSS) em tempo
integral de insultos e retaliações, nos levando a conviver com o terror e a iminente destruição da terra em uma guerra
nuclear.
A ditadura do proletariado
estendia-se pelo mundo em desenvolvimento, promovendo guerras, financiando a
destruição das instituições e do estado de direito, impondo novos valores e a
igualdade entre desiguais.
Em cuba, Fidel Castro e Che
Guevara, comandavam a invasão e a tomada do poder, transformando esse país e a
sua utopia socialista em um satélite da União Soviética. Executaram ou
condenaram à morte centenas de dissidentes políticos. Transformaram a romântica
ilha na fechada ditadura de Fidel Castro.
Os Estados Unidos, em defesa
dos seus princípios de liberdade, mandaram seus jovens cidadãos para o inferno
do Vietnã onde milhares deles morreram e mataram sem razão e sem causa que
justificasse a luta.
À época, o Brasil era uma
potência emergente; saltávamos de 48ª economia do mundo para a 8ª posição. Construíram-se estradas que
cortaram e interligaram o país em todas
as direções. Hoje, constrói-se pedágio, tapa-buracos e somos a 15ª economia do
mundo e a primeira em demagogia. Venceu a mídia e a mentira.
Restabelecemos a democracia,
a liberdade, consolidada por José Sarney, Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso e para dar
continuidade às mentiras e ao atraso: Lula da Silva. O Brasil vai bem OBRIGADO.
Na falta de opção, nós, os
velhos e aposentados sobreviventes de sustos após sustos, recordamos o passado.
Buscando flores, sonhos e borboletas no nosso próprio jardim; embriagando-nos
em nossa própria volúpia.
Celebramos hoje, nós e o
tempo; a poesia, nesses dias sem fausto. Sem poesia de pertencimento.
Somos a chama que nos consome,
criando e recriando a alquimia do tempo, que conduz para o desamparo do mundo.
O tempo embriaga o velho
como o vinho de sua ternura, mergulhando-o no paraíso de aventura compartilhada,
que entrelaça-se na amizade e na sua
fragilidade.
O amor ainda latente advém
desses tempos sem glória da salvação em si mesmo.
As estrelas midialíticas incendeiam
o que restou de poético e verdadeiro transmudando a verdade; lavando com ácido
o chão das nossas almas; alguns esfinges de silêncio.
Este sepulcral silêncio que
conduz à vida, imprimindo ritmo,lapidando uma sociedade mais justa, fraterna e
menos mentirosa.
As mãos de Deus se estendem
em nossa direção; nelas a ira, a lira e a utopia humanas não se cabem de
esperanças.
A DESPEITO DE TUDO, NÃO
FOMOS VENCIDOS – SOBREVIVEMOS.
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