As "istórias" do meu SERTÃO.
Cícero Turíbio. Conhecido pela alcunha de "Pai d'égua"
Por Aurivânio Andrade.
O fogão a lenha, enxadas encostadas no canto da parede, um moinho que servia para trituramos o milho para a feitura do cuscuz, alguns brinquedos meus espalhados pelo quintal produtivo da nossa casa, dentre eles, um “tratorzinho” feito de lata de carne (KITUT), cuja carroceria era de lata de sardinha. Assim era minha casa. Assim foi o meu convívio com a minha doce infância.
Mas, não é disso que eu quero falar. Não. São de outros fatos, de outros personagens que eu quero escrever, pra não "falar sozinho". Mesmo que esteja eu sozinho a escrever. Ou ler quem sabe. Quero fala do meu convívio com o sertão e com os sertanejos “valentes” a qual eu convivi. Esses verdadeiros professores que já não estão mais aqui. Mas, ficaram gravadas na minha mente, as istórias, as observações, os ensinamentos e a bravura que muitos deles passaram pra mim. Foram esses sertanejos também, fontes de inspirações do cantor Luiz Gonzaga, do escritor Ariano Suassuna, de Euclides da Cunha, e de tantos outros. Mas, hoje quero falar de uma figura típica, matuta e engaçada que nos deixou uma falta danada aqui na minha rua, na minha vizinhança. Estou falando de Cícero Turíbio, mais conhecido pelas alcunhas de "Ciço", “Pai D’égua” ou “Maimanjo.” Como era chamado por todos nós.
Ciço, como também os mais próximos o chamavam, era uma pessoa super engraçado e querido por todos daqui. Ele era uma pessoa analfabeta, mas de uma criatividade ímpar. O mesmo era proprietário de uma pequena bodega onde vendia cachaça, cigarros e outras iguarias. Certa vez, passou um andarilho na sua bodega e queria comprar cigarros. O andarilho indagou: “Tem cigarro Belmont aí senhor”.Belmont era uma marca de cigarro muito conhecido no final da década de 80 inícios dos anos 90. Ciço respondeu: “Tem não. Só tem maimanjo”. Esse tipo de cigarro não existia. Como Ciço era uma pessoa que não sabia ler, acabou inventando de última hora, esse tipo de cigarro. Nessa, o andarilho como também não sabia ler, pediu uma carteira do tal cigarro “maimanjo”. Depois que Ciço entregou o cigarro, o mesmo acendeu um, tirou dois tragos e disse: "Mas que cigarro bom esse “maimanjo". Não o conhecia". Ciço sempre foi uma pessoa assim; Quando algum cliente chegava a sua bodega, mesmo que não tivesse a mercadoria o mesmo inventava que tinha, dando-lhe outros nomes.
Certa vez, Pedro Henrique, genro de Capitão, meu vizinho, estava bebendo cerveja lá na bodega de Ciço. E Pedro Henrique num determinado momento, fez queixa a Ciço ou “Pai D’égua” como também era conhecido, sobre o estado em que se encontravam as cervejas.“Pai D’égua, essas cervejas estão quentes”. Disse Pedro Henrique. Ciçocolocava as cervejas pra gelarem numa geladeira não muito boa o que dificultava o estado de conservação e conseqüentemente a venda das mesmas. Minutos depois, conversa vai, conversa vem entre os que estavam bebendo, e tendo Ciço se aproveitado da distração dos mesmos, pegou uma garrafa de cerveja, esfregou sobre a camada de gelo que se forma no interior do congelador, de tal forma que a mesma ficou coberta de gelo e disse de forma enfática: “Essa aqui ta que é um véu meninos.” Como é de costume agente"comer ou beber" logo com os olhos, Pedro Henrique da mesa logo gritou: “Pode abrir outra aí “Pai D’égua.” Quando Ciço abriu a cerveja Pedro Henrique disse-me que a cerveja se resumiu só a escumas ou espumas. Fica a critério dos nobres LEITORES. Pra onde forem, ganham!
Taí o texto nº 09. Nas veredas das “istórias” do meu sertão. Bom fojo!
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