quarta-feira, 21 de setembro de 2016

A tampa e a garrafa.

Anúncios de um bom inverno. O serrote do Bom Princípio situado a extremo leste da minha cidade, testemunhado pelas serras do Martins, ratificava o temporal que estava por vir. 
Naquela manhã de um ano qualquer, eu me encontrava no roçado na companhia do meu pai e do meu irmão Adeilton Andrade que morreu de forma precoce vítima de abstinência alcoólica. Estávamos fazendo a segunda limpa na nossa plantação de milho e feijão, inclusive uma atividade desgraçadamente chata. Confesso que nunca gostei de tal atividade. Admiro e fico até encantado diante da paisagem. Mas não gosto.
Para esquecer a fome, sempre que fazíamos essa atividade, fazíamos acompanhados de muitas conversas e ensinamentos que meu pai num “trocar de experiências” acabava passando pra nós. Ele falava de tudo: Dos bailes que já tinha indo quando jovem, da "cachaça pesada" que já tinha bebido, das bagunças que já tinha feito, das dificuldades vividas ao criar sua primeira família, inclusive numerosa, enfim, não faltava conversa.
Conversa vai conversa vem, de maneira curiosa perguntei a ele como tinha conhecido sua primeira namorada e como se deu o seu primeiro casamento. O mesmo vendo minha curiosidade logo tratou de nos contar. Nesse momento deixei ele a vontade, e aos pouco ele foi expondo um pouco da sua vida. Pra fim de conversa, teve uma passagem que ele “arrancou” muitos risos de nós. Ele nos contou de forma enfática que quando namorava com sua futura esposa antes de ir pedir ela ao pai em casamento, resolveu passar em uma determinada bodega e tomou umas e outras para criar coragem - como si dizia naquela época. Depois de ter ingerido algumas doses de cachaça foi até o encontro do pai da futura namorada e sem gaguejar tratou o assunto. O que o pai da moça disse como resposta foi que ele não tinha sua filha para casar com cachaceiro não. Nessa, meu pai que também era um pouco ESQUENTADO como eu - a diferença entre ele e eu, é que ele só ficava “alterado” quando bebia. Já eu quando sou provocado, sapecou: Pois bote ela dentro de uma garrafa e mantenha a mesma bem tampada por que si não o fizer isso, eu vou carregar ela ainda hoje à noite. Nesse momento gerou um pequeno bate e boca entre dois, mas a promessa embriagada pelo cheiro de cachaça foi cumprida naquela noite de muitas alegrias vividas por eles. E bote alegrias!


Por Aurivânio Andrade.

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